Exijo a hipérbole, exijo a química, oxigénio e carbono; exijo a fonte que seca e que não se deixa secar, exijo a metamorfose que não se deixa mudar, exijo: o símbolo e a matéria, o número e a letra, o jovem que se obsoleta. Exijo-te na intimidade de uma frase, na esquina pútrida de um Eu: na inspiração puta de um verso.
Atravesso a...s vísceras do real
para verter a insídia do poema
Tento vender-me de tentação, entregar-me à escultura do sofrer; sofro em belo, em espaço, em amor – erecto e lírico, fecundo e trágico, demónio de deus ou anjo de negro. Tento tentar-me de tentação, árido sopro do livro que bebo.
Atravesso as entranhas do real
para verter a insídia do poema
Durmo na folha, sinuosa e branca: bruto, perigoso, ferido de mundo – amo o infiel, o cruel, o bordel; sou criatura, modelo e variante, sou uma merda que não precisa de instante.
Atravesso as veias do real
para verter a insídia do poema.
Atravesso as veias do real
para me despedir de te ser problema.
Pedro Chagas Freitas